segunda-feira, 25 de março de 2013

Desfiles SP Fashion Week


Após ver a exposição de Lygia Clark no Itaú Cultural, em São Paulo, Raquel teve a ideia de fazer algo com a obra de Lygia. Um amigo, também artista, disse: “Esquece, é muito difícil e eles são super fechados”. Mas Raquel não esqueceu, entrou em contato com a fundação e foi bem recebida por Alessandra Clark, neta da artista. A aprovação de um pedido assim é precedida de uma profunda análise, então Raquel teve que mandar os croquis da coleção, já no desespero por uma resposta, pois o prazo para finalizar o desfile já estava apertado. Duas semanas mais tarde, veio a resposta positiva.
Chega a arrepiar ouvir Raquel contar essa história cheia de emoções e expectativas. Para começar, é extremamente difícil viabilizar parcerias assim em um momento em que famílias que guardam a obra de grandes artistas brasileiros vetam boa porção de pedidos, de exposições a livros. Mas por aqui, tudo correu bem e a família Clark não poderia ter ficado mais feliz. “Fiquei encantada”, diz Alessandra. “Eles conseguiram traduzir a poética do neoconcreto da Lygia nas roupas o tempo todo. Tudo foi executado com primor”.
Lygia nunca ficou presa a uma plataforma somente. Buscava o movimento e deslocava sua arte no espaço, “longe do espaço claustrofóbico da moldura”. Dessa forma, Raquel construiu suas roupas sem se prender a uma silhueta, com camadas, sobreposições e leveza. Tinha espaço para o ar circular.
É uma coleção minimalista, muito leve e usável, especialmente as séries dos looks pretos e brancos. Engraçado notar como uma marca que sempre teve um olhar mais conceitual sobre a moda, unida a uma artista visionária, resultou em uma coleção comercial, fácil de entender e de usar. E claro, de muito bom gosto.









                                                                            TECA
Muita gente se emocionou no desfile da Têca. Ao meu lado, uma convidada enxugava os olhos. De fato, era difícil não se deixar levar pela imagem da cantora Roberta Sá cantando “Baby” em um longuíssimo branco. Parecia uma Iemanjá. Foi com essa boca de cena que Helô exibiu uma coleção madura, bem editada, de muito bom gosto e desejável.
A porcelana antiga inspirou as estampas e os bordados artesanais, com ponto Richilieu, típico do interior do Rio Grande do Norte, terra da estilista. Usando apenas agulhas, as artesãs fizeram uma combinação de pontos formando desenhos de arabescos e flores que estão na maior parte dos looks.
Há também shorts, paletós e jaquetas, mas o forte mesmo são os longos com transparências, fluídos e esvoaçantes, que fez as meninas sonharem com esse verão que se anuncia. Basta ver as fotos e escolher o seu. (CY)














                                                                     R.ROSNER
 A R.Rosner adora um drama, e o tema desta coleção Verão 2013/14 deu (muito) pano pra manga. Nas palavras de Rodrigo Rosner, que conversou com o FFW pouco antes do desfile: “A gente vai falar da desconstrução do mito amoroso através da figura das princesas; vamos falar de sofrimento, tristeza, insatisfação, desejo não correspondido – é uma coleção melancólica”. As princesas em questão incluíam figuras de contos de fadas, como Cinderela e Branca de Neve, princesas da vida real e outras do imaginário do estilista; como tudo isso foi transcrito para a passarela? “Construí pequenas fábulas, ou aproveitei as que já existiam, ou peguei histórias da vida real, e cada vestido tem uma inspiração em uma princesa. Daí isso se reflete em um bordado, uma forma, ou na estrutura, na cor”, ele explicou. Para o look número 4, por exemplo, Rosner imaginou “uma princesa em cujo berço havia muitas traças, e ela foi mordida por elas quando era pequena, então ela comia os próprios vestidos. A gente trabalhou com esse bordado que é todo vazado, como se ela estivesse comendo o vestido; a ideia é essa”. No geral, o resultado foi uma coleção de looks individualmente fortes, de silhuetas, proporções e materiais muito distintos – mas todos com muita exuberância, como gosta a mulher R.Rosner. (SL)














                                                                               LINO VILLAVENTURA

Quando entrou na passarela para agradecer, Lino Villaventura foi aplaudido de pé. Seus clientes e amigos ajudaram, com gritos, palmas e assobios, a encerrar o evento de maneira alegre e emocionante. É bonito ver um criador receber, de forma tão direta, uma resposta tão entusiasmada sobre seu trabalho.
É muito difícil falar sobre uma coleção de Lino. Basta ler o texto acima em Inspirações. Lino não tem um fio condutor, uma história única, uma ordem, falando na maneira mais tradicional. Ele é puro instinto e intuição, trabalha com sua imaginação, com seu passado, suas histórias de vida e desejos. Suas roupas são riquíssimas, adornadas por bordados, plissados, estampas e tecidos nobres, e o desfile sempre traz uma dose de drama. “Será que pensei na Amazônia? No Pará? No Nordeste? Ou na Ásia ou em culturas milenares?”, questiona o estilista em seu release. Lino viaja longe. E faz falta à moda essa liberdade. (CY)



















desfiles SP Fashion Week



                      Alexandre Herchcovitch

O verão de 1998/99 de Alexandre Herchcovitch foi o ponto de partida para essa estação. Revendo o desfile (que você pode ver na nossa seçãoVídeos), uma coleção experimental, já com a sua identidade estética, da época em que ele tampava o rosto das modelos, dá para perceber facilmente as similaridades.
Herchcovitch revê algumas peças daquele verão, criadas a partir de faixas de 10 cm enroladas no corpo da modelo. Ele refaz essa construção, mas introduz novos elementos, como referências a jaqueta perfecto, com zíperes, couro preto e modelagem. O modelo que Alexandre chama de “vestido Perfecto” é o look 31 e dá para perceber bem a influência.
Com exceção de sete looks, o desfile é preto e branco. São 31 modelos elegantes à sua moda e de rigor técnico. Para se ter uma ideia, havia cinco vestidos no camarim que nem podiam ser pendurados, tamanha delicadeza. Eles estavam esticados em um suporte no chão. “A estampa foi pensada especialmente para a história da faixa, com uma faixa em cima da outra”, diz Herchcovitch sobre um modelo preto e branco (look 18, o mais bonito de todos). Metade da coleção foi construída no corpo das modelos, o que fez com a que a prova de roupa levasse três dias em vez de um, e várias meninas tiveram que retornar ao ateliê mais de uma vez para ajustes.
















                                                                        
                                                                         AMAPÔ















                                                                 JULIANA JABOUR

 Sem um tema pré-definido, a coleção Verão 2013/14 de Juliana Jabour teve como fio condutor uma nova interpretação dos anos 1990, na perspectiva de uma mulher “madura, forte e decidida”. No backstage, antes da apresentação, a estilista destacou uma “preocupação muito grande com a limpeza das formas, que eu acho que mostra um amadurecimento da marca; é uma coleção mais minimalista, longilínea, mais próxima ao corpo”. De fato, é notável a diferença desta com coleções anteriores, especialmente quanto à silhueta, mais alongada e elegante; no lugar de seu recorrente balonê, por exemplo, surge o peplum, forte já há algumas temporadas. Mesmo o tie-dye, leve e discreto, consegue espaço nesta estética mais madura da marca, ao lado dos grafismos em “estampas primas”, como a estilista definiu. (SL)












                                                                           
                                                                            OSKLEN

“O Rio vai viver agora um período longo de festas. Eu acho um luxo viver no Rio de Janeiro nesse equilíbrio do sofisticado com o despojado, mas como são as nossas festas, como é a maneira de se vestir? O que é esse luxo do Rio?”, pergunta Oskar.
A Osklen mostrou justamente esse luxo tropical no qual se tornou especialista e usou as pedras preciosas (tons, lapidações, transparências) como ponto de partida para a modelagem, estamparia e cartela de cores. O resultado, como é recorrente em um desfile da marca, é um bom mix de peças usáveis e com design, que equilibram tecidos nobres e rústicos, looks monocromáticos e estampados. É o equilíbrio entre o despojado e o sofisticado ou ainda, segundo Oskar, “os dois lados de Ipanema: a simplicidade, a cultura da praia e da natureza com a vida cosmopolita dos prédios da Vieira Souto, com todas as suas festas”. E essa festa da Osklen é muito boa. (CY)









                                                          SAMUEL CIRNANSCK

Pitadas orientais têm temperado esta edição do SPFW e é interessante ver como cada marca trabalha essa ideia. Samuel mostra uma coleção inspirada no dia de uma flor, de seu desabrochar, passando por seu esplendor, até o momento em que ela se fecha ou morre. O gancho oriental fica por conta dos ricos bordados e da seda comprada na Índia com as cores mais usadas no país.
Das formas às camadas e recortes, tudo tem a ver com as flores. E os vestidos mostram esse processo com os modelos claros e leves do começo, com forma mais justa, que são as flores em botão; em seguida entram os vestidos com saias volumosas e amplas, em cores fortes, que representam o esplendor; e o final é marcado por silhuetas bem justas em dourado velho “como se a flor estivesse seca, morta”, ele diz. Uma coleção romântica e delicada que posiciona Samuel com cada vez mais força no segmento de festa. (CY)