Após ver a exposição de Lygia Clark no Itaú Cultural, em São Paulo, Raquel teve a ideia de fazer algo com a obra de Lygia. Um amigo, também artista, disse: “Esquece, é muito difícil e eles são super fechados”. Mas Raquel não esqueceu, entrou em contato com a fundação e foi bem recebida por Alessandra Clark, neta da artista. A aprovação de um pedido assim é precedida de uma profunda análise, então Raquel teve que mandar os croquis da coleção, já no desespero por uma resposta, pois o prazo para finalizar o desfile já estava apertado. Duas semanas mais tarde, veio a resposta positiva.
Chega a arrepiar ouvir Raquel contar essa história cheia de emoções e expectativas. Para começar, é extremamente difícil viabilizar parcerias assim em um momento em que famílias que guardam a obra de grandes artistas brasileiros vetam boa porção de pedidos, de exposições a livros. Mas por aqui, tudo correu bem e a família Clark não poderia ter ficado mais feliz. “Fiquei encantada”, diz Alessandra. “Eles conseguiram traduzir a poética do neoconcreto da Lygia nas roupas o tempo todo. Tudo foi executado com primor”.
Lygia nunca ficou presa a uma plataforma somente. Buscava o movimento e deslocava sua arte no espaço, “longe do espaço claustrofóbico da moldura”. Dessa forma, Raquel construiu suas roupas sem se prender a uma silhueta, com camadas, sobreposições e leveza. Tinha espaço para o ar circular.
É uma coleção minimalista, muito leve e usável, especialmente as séries dos looks pretos e brancos. Engraçado notar como uma marca que sempre teve um olhar mais conceitual sobre a moda, unida a uma artista visionária, resultou em uma coleção comercial, fácil de entender e de usar. E claro, de muito bom gosto.
TECA
Muita gente se emocionou no desfile da Têca. Ao meu lado, uma convidada enxugava os olhos. De fato, era difícil não se deixar levar pela imagem da cantora Roberta Sá cantando “Baby” em um longuíssimo branco. Parecia uma Iemanjá. Foi com essa boca de cena que Helô exibiu uma coleção madura, bem editada, de muito bom gosto e desejável.
A porcelana antiga inspirou as estampas e os bordados artesanais, com ponto Richilieu, típico do interior do Rio Grande do Norte, terra da estilista. Usando apenas agulhas, as artesãs fizeram uma combinação de pontos formando desenhos de arabescos e flores que estão na maior parte dos looks.
Há também shorts, paletós e jaquetas, mas o forte mesmo são os longos com transparências, fluídos e esvoaçantes, que fez as meninas sonharem com esse verão que se anuncia. Basta ver as fotos e escolher o seu. (CY)
R.ROSNER
A R.Rosner adora um drama, e o tema desta coleção Verão 2013/14 deu (muito) pano pra manga. Nas palavras de Rodrigo Rosner, que conversou com o FFW pouco antes do desfile: “A gente vai falar da desconstrução do mito amoroso através da figura das princesas; vamos falar de sofrimento, tristeza, insatisfação, desejo não correspondido – é uma coleção melancólica”. As princesas em questão incluíam figuras de contos de fadas, como Cinderela e Branca de Neve, princesas da vida real e outras do imaginário do estilista; como tudo isso foi transcrito para a passarela? “Construí pequenas fábulas, ou aproveitei as que já existiam, ou peguei histórias da vida real, e cada vestido tem uma inspiração em uma princesa. Daí isso se reflete em um bordado, uma forma, ou na estrutura, na cor”, ele explicou. Para o look número 4, por exemplo, Rosner imaginou “uma princesa em cujo berço havia muitas traças, e ela foi mordida por elas quando era pequena, então ela comia os próprios vestidos. A gente trabalhou com esse bordado que é todo vazado, como se ela estivesse comendo o vestido; a ideia é essa”. No geral, o resultado foi uma coleção de looks individualmente fortes, de silhuetas, proporções e materiais muito distintos – mas todos com muita exuberância, como gosta a mulher R.Rosner. (SL)
LINO VILLAVENTURA
Quando entrou na passarela para agradecer, Lino Villaventura foi aplaudido de pé. Seus clientes e amigos ajudaram, com gritos, palmas e assobios, a encerrar o evento de maneira alegre e emocionante. É bonito ver um criador receber, de forma tão direta, uma resposta tão entusiasmada sobre seu trabalho.
É muito difícil falar sobre uma coleção de Lino. Basta ler o texto acima em Inspirações. Lino não tem um fio condutor, uma história única, uma ordem, falando na maneira mais tradicional. Ele é puro instinto e intuição, trabalha com sua imaginação, com seu passado, suas histórias de vida e desejos. Suas roupas são riquíssimas, adornadas por bordados, plissados, estampas e tecidos nobres, e o desfile sempre traz uma dose de drama. “Será que pensei na Amazônia? No Pará? No Nordeste? Ou na Ásia ou em culturas milenares?”, questiona o estilista em seu release. Lino viaja longe. E faz falta à moda essa liberdade. (CY)